Entrevista exclusiva com presidente da Associação ConectarAGRO, Ana Helena de Andrade
Anunciada no primeiro semestre de 2022, a nova gestão da ConectarAGRO busca dar continuidade ao seu principal objetivo: fomentar a expansão da conectividade nas áreas rurais brasileiras. Nesta entrevista, a nova presidente da Associação, Ana Helena de Andrade, comenta sobre os desafios da entidade e qual a participação da ConectarAGRO na Agrishow 2022. O lançamento do Simulador e os projetos educacionais também são assuntos deste bate-papo.
ConectarAGRO: Um dos marcos da ConectarAGRO na Agrishow foi o anúncio de uma nova presidência da ConectarAGRO. Em sua visão, quais são as principais conquistas da Associação até agora e quais serão os desafios para a próxima gestão?
Ana Helena: O principal marco da Associação foi a nossa união há três anos, um momento em que empresas concorrentes e de outros segmentos – até mesmo não acostumadas em trabalhar com o setor agrícola – se uniram para discutir a infraestrutura de telecomunicação para as áreas rurais brasileiras em que não há cobertura. Logo, passamos a estudar possibilidades a partir de uma definição de tecnologia – optamos pelo 4G em 700 MHz por ser uma tecnologia democrática ao conectar pessoas, máquinas e dispositivos (coisas). Não há qualquer diferença entre as gestões, pois o que muda são apenas as atribuições que realizamos internamente. Portanto, nosso trabalho continua sob um único propósito: ajudar a cobrir as áreas rurais e áreas remotas com telecomunicação de quarta geração, já preparada para evoluções futuras.
ConectarAGRO: Sendo a nova presidente da ConectarAGRO, de que modo você percebe a importância da presença e, sobretudo, o protagonismo e liderança feminina dentro da Associação e no agronegócio?
Ana Helena: Acredito que o agronegócio brasileiro tenha uma participação muito significativa de mulheres que lideram fazendas, empresas e instituições. Temos um número grande de pesquisadoras, as quais trazem inovação e trabalham com tecnologias disruptivas, fazendo com que o Brasil chegue na posição em que está hoje. Eu diria que a participação feminina no agronegócio é anterior à sua inclusão como pauta social. As mulheres na agricultura tiveram um papel fundamental no campo, sobretudo no suporte à propriedade rural e às novas lideranças. Assim, ela está mais consolidada e respeitada, pois esta presença cresceu baseada nas competências femininas.
ConectarAGRO: Qual era o objetivo e como você vê a participação da ConectarAGRO na Agrishow?
Ana Helena: Nossa participação na Agrishow teve como fundamento mostrar a importância da conectividade no campo para uma grande quantidade de pessoas, como autoridades e representantes de governos. Apresentamos também o evento chamado Hora da Conectividade, o qual trouxe exemplos de agricultores que alavancaram sua produtividade com telecomunicações. O ciclo de palestras também contemplou a apresentação de novas tecnologias e soluções financeiras para viabilizá-las, atraindo um número significativo de visitantes para o nosso estande. A Agrishow foi muito produtiva para a difusão da importância da telecomunicação como caminho para uma agricultura cada vez mais tecnificada no Brasil.
ConectarAGRO: Durante a Agrishow, foi anunciado o lançamento de um Simulador de benefícios da conectividade, inédito e gratuito. Qual foi a estratégia pensada para lança-lo?
Ana Helena: Como política pública ou solução para modelos de negócios com conectividade, a ConectarAGRO sempre utiliza informações públicas para que estudos possam ser realizados, de modo que nossas sugestões sejam fundamentadas em fatos e dados concretos. Assim, tínhamos a necessidade de quantificar o benefício que a disponibilidade de telecomunicação traz ao agronegócio. Outro objetivo era tornar públicas as informações para as pessoas que quisessem fazer a análise de seu investimento. Portanto, o Simulador surgiu para preencher uma lacuna de dados públicos que permitem a quantificação de benefícios e, consequentemente, a decisão consciente de investimentos. Ele foi criado com as informações de empresas associadas, as quais possuem uma série de dados sobre o impacto da conectividade. Tentamos fazer uma versão bastante simples, assim, qualquer pessoa pode inserir seus dados e chegar a suas conclusões. A ideia é que a aplicação seja dinâmica e sempre revisitada, no intuito de ser cada vez mais útil para o agricultor brasileiro.
ConectarAGRO: Outras ações relevantes da Associação são os projetos educacionais para capacitação de produtoras e produtores do campo. Pensando nisso, qual o papel social da ConectarAGRO?
Ana Helena: Sabemos que o agro conectado é mais produtivo, uma vez que a conectividade habilita o uso de dispositivos que, hoje, não estão acessíveis por falta de telecomunicação. Nossa visão é de que devemos ter tecnologias inclusivas à disposição do agricultor brasileiro. Precisamos levar tecnologia ao ambiente rural, mas queremos que as pessoas no campo também saibam utilizá-la. Apenas como exemplo, um trator possui uma tecnologia embarcada bastante significativa, e sua forma de operação tem um contexto com comandos que mais parecem os de um avião, como joysticks e telas. Assim, precisamos habilitar o operador a movimentar máquinas de diferentes configurações. Apesar de trabalharmos no setor produtivo, entendemos que a conectividade é fundamental para as pessoas: primeiro, porque abre a oportunidade do aprendizado. O segundo aspecto importante é a saúde, a qual ficou bastante evidente na pandemia. Uma pessoa que está a cinco horas de uma cidade – que antes possuía dificuldade para realizar acompanhamentos médicos – agora pode fazer uma consulta remota graças à telecomunicação. Por fim, deixar de estar isolado e poder se conectar com a família retém mão de obra no campo. Tais características sociais são marcantes e sempre estiveram em nosso radar.
ConectarAGRO: Para tornar o agro conectado, são necessárias parcerias e recursos. Com isso em mente, como os recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) podem auxiliar a conectividade no agro?
Ana Helena: O Fust, que já arrecadou um volume significativo de recursos, até esse momento não viabilizou que o país estivesse 100% conectado com a melhor opção que temos hoje – 4G em 700MHz. Com uma revisão, agora ele passa a ter um comitê gestor composto por representantes do Governo Federal e da sociedade civil. Dentro do segundo grupo citado, estão o Instituto CNA e a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), as quais, com muita experiência, têm proximidade com a ConectarAGRO. Tenho certeza que, dessa vez, o Fust focará no ambiente rural, acelerando a conectividade no campo a partir de recursos já disponíveis para investimento.
ConectarAGRO: E de que modo as contrapartidas do leilão 5G podem auxiliar no propósito da conectividade rural?
Ana Helena: As contrapartidas previstas no leilão 5G, recentemente ocorrido, são de extrema importância para o propósito da Associação. Entre eles, há contrapartidas para cobertura de estradas, conectividade de escolas rurais e infraestrutura mínima de backhaul em cidades pequenas, fatores extremamente relevantes ao propósito da ConectarAGRO. As contrapartidas de cobertura de rede móveis consideram o 4G como tecnologia mínima aceitável, raciocínio totalmente alinhado com os nossos objetivos.